sábado, 27 de janeiro de 2007

Quinto Capítulo - Das Mentiras


Antes de mais nada, é preciso esclarecer: não vamos aqui tratar das grandes mentiras, daquelas que nos enchem de indignação, que promovem a ira e o desprezo. Não. Aqui somente estarão presentes aquelas mentirinhas do dia-a-dia, quase inocentes, ditas sem pensar, por preguiça, vergonha, conveniência. Apenas estas, não mais.
Além disso, o fato deste capítulo suceder àquele das respostas, é mera coincidência. Primeiro, porque há mentiras nas perguntas, também - embora diga-se que toda mentira seja uma afirmação falsa. Segundo - e mais importante - é que, por conta disto, pode-se fazer a ilação incorreta de que o que foi escrito no capítulo anterior não seja verdadeiro - interpretação que repelimos já e agora.
Mentiras, ou, melhor dizendo, inverdades, existem por si. O chamá-las de inverdades já dá uma idéia do tipo de mentiras a que nos referimos aqui, já que o próprio fato de designá-las por outro nome que não o seu já implica uma mentira...
Existem por si porque são disfarces, escudos, máscaras. Podem ser inocentes e socialmente aceitas, justificadas - como os pseudônimos, os nomes artísticos, os personagens.
Podem, por outro lado, estar mais próximas à contravenção. Uma espécie de agente de jogo do bicho, conhecido dos vizinhos, mas envolvido em atividade sabidamente ilegal, a que todos fecham os olhos. São as mentiras que todos sabem que o são, mas, mesmo assim, ouvem, descrêem e deixam seguir.
Às vezes, são pura fantasia, adornos coloridos de uma história muitas vezes repetida e sem-graça, que se torna mais atrativa pela adição inconseqüente de algum brilho, aqui e ali.
Outras vezes, prejudicam, induzem ao erro, causam pena e dor. Destas, não falaremos agora. Só nos interessam aquelas, as leves, bolhas de sabão dos argumentos, que volutam, se apresentam, atraem os olhares, iludem e desaparecem.
Não as defendo - nem estas. Mas as mentiras são, estão presentes - disfarçadas ou explícitas. Negar sua existência é compactuar com elas. E mentir.



quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Quarto Capítulo - Das Respostas

É forçoso reconhecer que respostas levam muito mais tempo e demandam muito mais espaço que perguntas. Enquanto um simples "por que?" concentra em seis letras e um sinal gráfico todo um universo de expectativas, os porquês que as esclarecem necessitam muito mais.
Há todo um trabalho de preparação para que uma resposta seja construída. É preciso agrupar todas as idéias e conceitos de enquadramento possível à pergunta; é preciso separar os itens mais convenientes, os que confiram mais clareza e objetividade à resposta, os mais adequados à situação em curso, para, só então, dar início à elaboração propriamente dita.
Sim, porque uma resposta não é exatamente a solução de um problema matemático, absolutamente lógico e insofismável. Não basta apresentar argumentos possíveis. É vital inseri-los num processo de convencimento capaz de satisfazer completamente a pergunta - caso contrário, uma nova pergunta surgirá, até que o processo se dê por encerrado.
Às vezes, todos estes requisitos fundamentais apresentam um fator de complicação adicional: não são coerentes entre si. Pior, podem ser conflitantes.
A objetividade da resposta pode carecer de convencimento, os conceitos e argumentos não são objetivos, a ênfase no convencimento faz sombra à objetividade e à argumentação. Daí se depreende que, além de todos estes requisitos, toda resposta tem de conter, em si mesma, um delicado equilíbrio entre todos os fatores, uma harmonia - lá vem a música como metáfora...- que permita a presença e personalidade de cada item na medida necessária à situação.
Este mesmo equilíbrio, aliás, aparece na relação entre perguntas e respostas. Quanto melhor a primeira, mais complexo o processo de elaboração da segunda - isto, mesmo sem considerarmos a questão da presença ou não da veracidade no processo, porque isto já é um outro capítulo...
Mede-se a eficácia de uma resposta pelo efeito que gera. Pode ser de satisfação - certas respostas aquecem o coração e são capazes de transformar todo um dia num momento - pode ser de consternação, pela reversão de expectativas, pode ser de inconformismo, incredulidade, decepção.
E, a depender do resultado, todo processo volta à estaca zero, mesmo que esteja correto, porque a avaliação da resposta se baseia na expectativa de quem pergunta...
De fato, não é fácil. Tão difícil que respostas não deviam ser simplesmente dadas, sem pensar. Em muitos casos não o são, não importa o quanto sejam esperadas ou necessárias. Às vezes, por incapacidade; às vezes por conveniência; às vezes, porque não existem.

domingo, 21 de janeiro de 2007

Terceiro Capítulo - Das Perguntas

Perguntas são inerentes à natureza humana. Vão desde o "quem-como-onde-por que" do jornalismo, até as preocupações mais filosóficas do "quem somos, de onde viemos, para onde vamos".
O importante, mesmo, é que elas sempre utilizam tanto as palavras como os silêncios - se bem que silêncios, normalmente, estão mais presentes nas respostas, mas isto já é outro capítulo...
O problema é que perguntas são muito exigentes. Elas existem em função das respostas. Uma pergunta sem resposta é pássaro sem asa, macarrão sem queijo, sono sem sonhos.
Uma pergunta - qualquer pergunta - é uma flecha à procura de um alvo. Ela expõe, acusa, aponta, demanda. Às vezes, é indignada, às vezes é pura incredulidade decepcionada. Às vezes, esclarece, às vezes confunde.
Há oportunidades - irritantes, inclusive - em que perguntas são respondidas com perguntas, uma espécie de resposta travestida que nem esclarece, nem confunde. É como aqueles jogos de tabuleiro em que se cai numa casa que manda o jogador de volta ao início, num eterno recomeçar, independentemente do fato de se mudar de assunto.
Perguntas também são mapas, caminhos, atalhos. Facilitam as relações, promovem entendimento - ou, pelo menos a busca dele...
Nem por isto são mais fáceis. Mexem com toda uma caixa de Pandora, gavetas por arrumar em que você procura um pé de meia específico, desparceirado, solitário, que só existe em companhia do outro.
Como perguntas à procura de respostas.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Segundo Capítulo - Dos silêncios

Silêncios são tão eloqüentes quanto as palavras. Mais, até. Se as palavras têm duplo significado - objetivo e subjetivo - silêncios são todos subjetividade. Podem ser indignados, raivosos, ressentidos, constrangidos como o partilhar de um elevador entre estranhos. Podem ser calmos e sonhadores, cismarentos e doloridos, mas têm em si, tal como as palavras, uma duplicidade: existem e não existem.
O existir, explica-se facilmente: existem porque são, estão presentes, são percebidos, mesmo que somente a partir de um dado momento. Já o não existir explica-se por serem mensagem sem texto, envelope sem carta. Silêncios não têm bula nem legenda. São explicados pela interpretação do destinatário - daí sua grandíssima capacidade de gerar as mais variadas confusões.
Sim, porque o destinatário vai interpretá-los à luz de suas próprias conveniências, experiências, pontos de vista - que, normalmente serão completamente diferentes do gerador do silêncio.
E, a partir daí, tudo muda. Confusão instalada, os silêncios se extingüem, porque, para serem explicados, têm que ser rompidos.
Silêncios existem para valorizar as palavras. Exatamente como na música, em que as pausas acentuam as harmonias, o silêncio não só faz parte da melodia como a torna mais rica.
Para isto existem os silêncios. E, por isto, quando atingem seus objetivos, desaparecem, submergem, se transformam.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Primeiro Capítulo - Das palavras

Há quem as use com parcimônia, há os prolixos. Há os indignados, que delas fazem bandeiras, armas, tochas flamejantes. Há os cordatos, que as usam sempre em caixa baixa, meio a medo.
Há os agressivos, que buscam sempre as mais ponteagudas e as desferem com certeira pontaria, visando o ponto mais sensível e onde permanecerão alojadas pelo correr dos séculos. Há os amorosos, que não medem esforços para escolher e empregar as certas, aquelas que vão gerar um resultado mais que positivo.
Palavras são códigos, signos, ícones que trazem em si dois significados distintos e coexistentes. Um, objetivo, a definição da coisa em si, tal qual mostra o dicionário e que, presumivelmente, é entendido por todos os que dominem a língua.
Outro, o subjetivo, já implica outra história. Envolve a entonação - a roupa que a palavra escolhe para ir à rua - envolve experiências, vivências, traumas, lembranças, que atribuirão a esta mesma palavra um rótulo, um marcador que só você e aqueles com quem você compartilhar este segredo serão capazes de perceber.
Por isso mesmo, nem sempre a palavra de quem fala é a mesma de quem ouve, embora iguais na forma e no conteúdo objetivo.
Porque a diferença está onde sempre esteve: nas pessoas. Que, às vezes, conseguem traduzir todo este complexo emaranhado de emoções em suas palavras, às vezes não.
E que nem por isso desistem de lançá-las ao vento, na esperança de que encontrem ninho e permaneçam.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Prefácio

Afora a possibilidade de falar sozinho sem que ninguém te olhe desconfiado, um blog tem a vantagem de ser lido por pessoas as mais diversas e inesperadas. Coisas da internet - você imagina que está isolado mas, na verdade, pode ser visto por cinqüenta milhões de pessoas, em todo o mundo.
O fato de você escrever em português, inclusive, não garante impunidade - há sempre um mineiro de Governador Valadares nas cidades mais insuspeitas por todo este nosso globo...
Por outro lado, a vantagem é que um blog supõe diálogo: os incomodados podem reclamar, corrigir, levantar novas polêmicas e assim por diante.
O importante, enfim, é que haja conteúdo - mesmo que este conteúdo só interesse ao autor, o que já significa um ponto de partida, pois no meio de tanta gente, há de existir quem partilhe as mesmas opiniões, pelo menos potencialmente...
Em conclusão, não há a obrigatoriedade de postar o que quer que seja em datas específicas ou a cada "x" horas. É a liberdade quase absoluta de expressão...
Por fim, o título desta postagem é um brinde de ano-novo: você poderá dizer que, ao contrário da imensa maioria dos brasileiros, você já leu um prefácio...

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Feliz 2007.

Dia de posses, discursos e discretas manifestações populares. Melhor assim.