sexta-feira, 18 de maio de 2007

Décimo Quinto Capítulo - Dos Caminhos

Não são os caminhos que nos levam, nem nós que nos deixamos levar por eles.
Eles apenas estão lá, a nossa disposição, a nossa espera, prontos para fazer o que se espera deles. Nada mais.
É nossa a escolha, com todos os seus riscos, vantagens e ônus. É a bênção e maldição do livre-arbítrio - nessa ordem, aliás.
Porque é da vida e da liberdade o escolher - o escolher, apenas. Ningúem é capaz de avaliar por antecipação se determinada escolha é melhor que outra, porque não é possível teorizar sobre hipóteses.
Hipóteses são apenas possibilidades, não-existência - apesar do "penso, logo existo..."
Embora isto, vivemos num mundo de possibilidades, luzes e sombras, onde tudo é possível e tudo não passe de "vastas emoções e pensamentos imperfeitos."
Basta fazermos o melhor que pudermos.
Foi mesmo Fernando Pessoa/Álvaro de Campos quem disse:
"Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono elaboro -
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também."
Porque os caminhos estão lá. Sempre. Dentro de nós mesmos, não cada um de nós neles.

domingo, 13 de maio de 2007

Décimo Quarto Capítulo - Das Chegadas e Partidas

Partir deixa saudades, amigos, lembranças, mas só partindo é que se chega.
E, se partidas deixam lágrimas, chegadas as trazem, também, num ciclo interminável de ir e vir, sair e voltar, descobrir e relembrar.
Ir em busca de outras descobertas aumenta, enriquece, vivifica.
Para quem foi, para quem permaneceu na expectativa da volta. Da chegada, da partida.

sábado, 5 de maio de 2007

Capítulo Décimo Terceiro: Das Semelhanças e das Diferenças

Diferenças e semelhanças são a mesma coisa, só que diferentes. Ambas se relacionam com as distâncias, mas, ressalte-se, enquanto as diferenças as aumentam, as semelhanças aproximam.
Porque esta é a sua função. Diferenças dão limites, semelhanças incluem, partilham, compreendem - talvez por isso mesmo sejam sempre muito mais numerosas.
Basta atentar para o dia-a-dia de qualquer povo nas praças, nas ruas, nas casas. Todos queremos paz, prosperidade, ser felizes - só isso já bastaria para igualar-nos a todos.
E, aí, entram as diferenças. Por vezes, cruas, grossas, hostis, um "mantenha distância" demonstrado por pensamentos, palavras e obras; outras vezes, surgem travestidas de proteção à individualidade, do ser como se é.
Que engano! Semelhanças não atrapalham a individualidade. Pelo contrário, a tornam mais rica, trazem novas contribuições e a aprimoram. Porque o contato com o outro sempre deixa marcas. Mesmo aquele casual, rápido, comercial, descuidado como o se defrontar com alguém na rua que, naquele preciso instante, escolheu o mesmo caminho, vindo em direção contrária. Uma troca de olhares basta. Já não somos mais totalmente estranhos.
Há que aproveitar as oportunidades de descobrir as semelhanças - muitas, imensas, gratificantes - entre todos nós.
Porque fronteiras às vezes existem para proibir a entrada, mas, em se tratando de relacionamento entre os seres, no mais das vezes estão lá para impedir a saída.
Melhor escolher a troca generosa que engrandece do que o conforto seguro que apequena.