
Pequenas coisas são essenciais à vida. A partir da célula, do átomo. Lembranças de infância, brinquedos que não brincam sozinhos, pores-do-sol, listas e bolinhas, gosto de bolo de avó - muito melhor que as Madaleines de Proust -, barulho de chuva no telhado, amora e manga tiradas do pé, ler quando dá vontade, um solo de violino, cheiro de café, tudo isto pertence à categoria das pequenas e intangíveis coisas.
São, sim, pequenas, porque podem passar despercebidas pelo correr do dia-a-dia, escapar aos olhares mais atentos, mas, isto, as grandes também podem sê-lo, porque estar atento implica mais que perceber. Necessita e se nutre da preocupação com o outro e com si mesmo.
É este norte que transforma as coisas pequenas em pequenas coisas, dá-lhes importância, faz a diferença.
Porque é no olhar do outro que elas se refletem, é no sorriso do outro que se deixam identificar, é no outro, para o outro, pelo outro que se multiplicam em frações intermináveis, como um campo de flores ou uma revoada de borboletas.