domingo, 12 de agosto de 2007

Vigésimo-Primeiro Capítulo: De Pais e de Filhos


Embora todos os pais sejam filhos, nem todos os filhos são pais. Esta máxima acaciana expõe mas nada explica. Porque, embora não tenham como aplicar seus conceitos de paternidade - ou maternidade - filhos sem filhos hão de ter lá suas opiniões de como cuidar, amparar, valorizar, amar seus prórpios rebentos.
Vão aqui, portanto, umas poucas reflexões destinadas a trazer alguma luz a este fundamental mistério da paternidade:
Reflexão número 1: "O que você planta, você colhe".
Não adianta cobrar responsabilidade, se você mesmo não deu o exemplo; não adianta dar o exemplo se você exagerou na condescendência; não adianta dar disciplina sem dar amor. Como você vê, é simples.
Reflexão número 2: "Você não é o único a plantar, nem o único a colher".
Ter e criar filhos é trabalho de parceria. Às vezes um se dedica mais, às vezes outro, mas a responsabilidade pelos erros e acertos é compartilhada. Sempre.
Reflexão número 3: "Filhos ensinam tanto quanto aprendem".
Quem já tem filhos sabe disto, quem ainda não tem, vai saber. Porque estas poucas reflexões me foram ensinadas por minhas próprias filhas, o mais próximo que podemos chegar de nós mesmos. E da própria eternidade.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Vigésimo Capítulo: Do Inconformismo

Não se conformar significa muito mais que discordância. É a discordância ativa, permanente, um eterno discutir, contestar, argumentar. Um não à apatia, ao "deixa estar", ao "que posso eu?".
A todos nós serve a lição dada todos os dias, em todas as tiras, de uma graciosa menininha - hermanita nuestra - que, embora já tenha passado dos quarenta e a meio caminho da quinta década, prossegue com o mesmo frescor e entusiasmo juvenis que a caracterizam desde sua aparição.
Salve Quino, hoje comemorando seu jubileu de diamante com a vida . Gracias por todo, Quino. Aqui, Mafalda nunca foi tão atual.

sábado, 7 de julho de 2007

Décimo Nono Capítulo - Dos Compromissos

Compromissos são escolhas, decisões tomadas por livre vontade, um estar junto que não tolhe, só aproxima.

Compromissos ajudam a compreender e aceitar. Não são infalíveis, não são perfeitos, são, sim, resultados.

Resultados de tentativas e erros, resultados de trocas e concessões, resultados de dedicação e cuidado.

Compromissos fazem crescer, estimulam, enriquecem.

Por isto mesmo, perduram, vencem as noites, engolem os dias, ressaltam momentos - como o sol a brilhar através das gotas de orvalho preguiçosamente a escorregar de uma pétala.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Décimo Oitavo Capítulo - Do Equilíbrio


Equilíbrio é um estado, uma condição, por princípio instável. É impossível manter o equilíbrio indefinidamente, mas, mesmo assim, nossa busca pela permanência deste estado é eterna.
Talvez pela nossa própria busca incessante pela segurança. Talvez porque a instabilidade nos apavore, talvez porque não admitamos que nem tudo possa ser permanente e eterno - nada o é neste nosso mundo, aliás.
Esta nossa teimosia é que nos impede de ver que o equilíbrio só pode estar presente num estado dinâmico. Como o andar de bicicleta, em que quanto maior a velocidade, maior o equilíbrio.
Admitir a dinâmica, o movimento, a transformação. Tudo isto auxilia no equilíbrio, trabalha a nosso favor, contribui, aprimora, desenvolve.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Décimo Sétimo Capítulo - Das Portas

Portas existem para abrir e fechar. Nada mais conspícuo. Há aquelas simples, de compensado, quase uma cortina de tão frágeis. Há as sólidas, como os portões dos castelos de antigamente, que impõem respeito temeroso.
Portas, em si, quaisquer que sejam, trazem um certo receio, diferentemente das janelas. Janelas se expõem aos olhos - mesmo as fechadas - e só o que se espera é a invasão de um olhar, nada que ameace quem está por trás da janela, nenhuma responsabilidade para quem olha.
Portas, não. Portas são uma possibilidade, uma escolha, seja para entrar, seja para sair. Escolha feita, decisão tomada, responsabilidade assumida - mesmo que seja a de não sair ou não entrar.
Portas impõem uma atitude, daí sua imponência. Pior, esta imposição deriva da nossa própria fantasia - quem nunca parou diante de uma porta a imaginar o que se seguiria após ultrapassar sua soleira?
Prefiro acreditar que, mais que proteger, portas existem para serem abertas, como os nossos braços, a receber num abraço quem o faça por merecer.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Décimo Sexto Capítulo - Das Presenças e das Ausências

Presenças trazem conforto, ausências, melancolia. Não obstante, ausências podem também trazer presenças, porque a ausência é mais do que a não presença, é a presença que não está, não a que não é.

Complicado? Nem tanto. Quantas vezes não nos lembramos de quem não está, mas permanece? Pelo que fez - ou pelo que não fez. Pelo amor que dedicou, pelo apoio, pela solidariedade que emprestou, sem nada pedir em troca.

Ausências são tão importantes quanto as presenças, porque também são. Porque existem a partir dos exemplos, deixados, seguidos, presentes.

Assim, ausências e presenças são a mesma coisa, têm a mesma importância, o mesmo peso.

Porque exemplo são assim mesmo: nos tomam pela mão e seguem conosco pelo resto da vida.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Décimo Quinto Capítulo - Dos Caminhos

Não são os caminhos que nos levam, nem nós que nos deixamos levar por eles.
Eles apenas estão lá, a nossa disposição, a nossa espera, prontos para fazer o que se espera deles. Nada mais.
É nossa a escolha, com todos os seus riscos, vantagens e ônus. É a bênção e maldição do livre-arbítrio - nessa ordem, aliás.
Porque é da vida e da liberdade o escolher - o escolher, apenas. Ningúem é capaz de avaliar por antecipação se determinada escolha é melhor que outra, porque não é possível teorizar sobre hipóteses.
Hipóteses são apenas possibilidades, não-existência - apesar do "penso, logo existo..."
Embora isto, vivemos num mundo de possibilidades, luzes e sombras, onde tudo é possível e tudo não passe de "vastas emoções e pensamentos imperfeitos."
Basta fazermos o melhor que pudermos.
Foi mesmo Fernando Pessoa/Álvaro de Campos quem disse:
"Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono elaboro -
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também."
Porque os caminhos estão lá. Sempre. Dentro de nós mesmos, não cada um de nós neles.