sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Primeiro Capítulo - Das palavras

Há quem as use com parcimônia, há os prolixos. Há os indignados, que delas fazem bandeiras, armas, tochas flamejantes. Há os cordatos, que as usam sempre em caixa baixa, meio a medo.
Há os agressivos, que buscam sempre as mais ponteagudas e as desferem com certeira pontaria, visando o ponto mais sensível e onde permanecerão alojadas pelo correr dos séculos. Há os amorosos, que não medem esforços para escolher e empregar as certas, aquelas que vão gerar um resultado mais que positivo.
Palavras são códigos, signos, ícones que trazem em si dois significados distintos e coexistentes. Um, objetivo, a definição da coisa em si, tal qual mostra o dicionário e que, presumivelmente, é entendido por todos os que dominem a língua.
Outro, o subjetivo, já implica outra história. Envolve a entonação - a roupa que a palavra escolhe para ir à rua - envolve experiências, vivências, traumas, lembranças, que atribuirão a esta mesma palavra um rótulo, um marcador que só você e aqueles com quem você compartilhar este segredo serão capazes de perceber.
Por isso mesmo, nem sempre a palavra de quem fala é a mesma de quem ouve, embora iguais na forma e no conteúdo objetivo.
Porque a diferença está onde sempre esteve: nas pessoas. Que, às vezes, conseguem traduzir todo este complexo emaranhado de emoções em suas palavras, às vezes não.
E que nem por isso desistem de lançá-las ao vento, na esperança de que encontrem ninho e permaneçam.

Um comentário:

R de Regina disse...

10000000 em inteiro teor.
Poucos escrevem como pintam uma tela.