quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Quarto Capítulo - Das Respostas

É forçoso reconhecer que respostas levam muito mais tempo e demandam muito mais espaço que perguntas. Enquanto um simples "por que?" concentra em seis letras e um sinal gráfico todo um universo de expectativas, os porquês que as esclarecem necessitam muito mais.
Há todo um trabalho de preparação para que uma resposta seja construída. É preciso agrupar todas as idéias e conceitos de enquadramento possível à pergunta; é preciso separar os itens mais convenientes, os que confiram mais clareza e objetividade à resposta, os mais adequados à situação em curso, para, só então, dar início à elaboração propriamente dita.
Sim, porque uma resposta não é exatamente a solução de um problema matemático, absolutamente lógico e insofismável. Não basta apresentar argumentos possíveis. É vital inseri-los num processo de convencimento capaz de satisfazer completamente a pergunta - caso contrário, uma nova pergunta surgirá, até que o processo se dê por encerrado.
Às vezes, todos estes requisitos fundamentais apresentam um fator de complicação adicional: não são coerentes entre si. Pior, podem ser conflitantes.
A objetividade da resposta pode carecer de convencimento, os conceitos e argumentos não são objetivos, a ênfase no convencimento faz sombra à objetividade e à argumentação. Daí se depreende que, além de todos estes requisitos, toda resposta tem de conter, em si mesma, um delicado equilíbrio entre todos os fatores, uma harmonia - lá vem a música como metáfora...- que permita a presença e personalidade de cada item na medida necessária à situação.
Este mesmo equilíbrio, aliás, aparece na relação entre perguntas e respostas. Quanto melhor a primeira, mais complexo o processo de elaboração da segunda - isto, mesmo sem considerarmos a questão da presença ou não da veracidade no processo, porque isto já é um outro capítulo...
Mede-se a eficácia de uma resposta pelo efeito que gera. Pode ser de satisfação - certas respostas aquecem o coração e são capazes de transformar todo um dia num momento - pode ser de consternação, pela reversão de expectativas, pode ser de inconformismo, incredulidade, decepção.
E, a depender do resultado, todo processo volta à estaca zero, mesmo que esteja correto, porque a avaliação da resposta se baseia na expectativa de quem pergunta...
De fato, não é fácil. Tão difícil que respostas não deviam ser simplesmente dadas, sem pensar. Em muitos casos não o são, não importa o quanto sejam esperadas ou necessárias. Às vezes, por incapacidade; às vezes por conveniência; às vezes, porque não existem.

2 comentários:

R de Regina disse...

" Tantas palavras
Que eu conhecia
Só por ouvir falar, falar"(Chico)
Escrever, está na sua veia.
O moço já era poeta quando conheci,amava as palavras.
E diante dos meus olhos, como um filme jamais visto,uma pintura,uma revelação.
Das perguntas, nem me lembro tantas fiz na vida,das respostas também.
Fico com o que não perguntei,fico com estas palavras do outro, que me levam a olhar o lado de dentro e perguntar sempre, quando vou reponder para mim mesma?!.
Quando?

Flavio Valsani disse...

E sou só eu quem sabe escrever e é poeta, não é?...