sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Segundo Capítulo - Dos silêncios

Silêncios são tão eloqüentes quanto as palavras. Mais, até. Se as palavras têm duplo significado - objetivo e subjetivo - silêncios são todos subjetividade. Podem ser indignados, raivosos, ressentidos, constrangidos como o partilhar de um elevador entre estranhos. Podem ser calmos e sonhadores, cismarentos e doloridos, mas têm em si, tal como as palavras, uma duplicidade: existem e não existem.
O existir, explica-se facilmente: existem porque são, estão presentes, são percebidos, mesmo que somente a partir de um dado momento. Já o não existir explica-se por serem mensagem sem texto, envelope sem carta. Silêncios não têm bula nem legenda. São explicados pela interpretação do destinatário - daí sua grandíssima capacidade de gerar as mais variadas confusões.
Sim, porque o destinatário vai interpretá-los à luz de suas próprias conveniências, experiências, pontos de vista - que, normalmente serão completamente diferentes do gerador do silêncio.
E, a partir daí, tudo muda. Confusão instalada, os silêncios se extingüem, porque, para serem explicados, têm que ser rompidos.
Silêncios existem para valorizar as palavras. Exatamente como na música, em que as pausas acentuam as harmonias, o silêncio não só faz parte da melodia como a torna mais rica.
Para isto existem os silêncios. E, por isto, quando atingem seus objetivos, desaparecem, submergem, se transformam.